O vinho espumante sob o radar do Brasil também é uma grande pechincha

Se você não sabia que a terra do bife e do samba também faz vinhos excelentes, é hora de descobrir.

História verídica: quando o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva serviu ao francês Nicolas Sarkozy uma taça do vinho espumante brasileiro da Casa Valduga, Sarkozy elogiou sua escolha de champanhe. As seduções da Serra Gaúcha, região vinícola do sul onde foi feito, são puro Brasil – papagaios e cachoeiras, partidas de futebol, caipirinhas picantes, churrasco fervente – mas com esta grande surpresa. É um oásis de espumante brilhante, vivaz e festivo, com o chardonnay como protagonista. Você pode ser perdoado se não soubesse disso. Mas aqui está um truque para identificar os próximos países em ascensão na produção de vinho: verifique o confiável The World Atlas of Wine. Pela primeira vez, a última edição destina uma página inteira ao Brasil. Tive minha primeira degustação séria dos vinhos do país há vários anos, em uma conferência sul-americana sobre vinhos. A diversidade de estilos de espumantes era impressionante.
 
Quer sejam estrelinhas baratas, chuggable, estilo prosecco, moscatos frizzantes doces, bruts orientados a valor ou sofisticados blanc de blancs vintage, o Brasil tinha tudo sob controle. O melhor de tudo é que agora mais deles estão disponíveis fora do país. Mas deixe-me voltar. Você pode estar presumindo que o Brasil é um lugar totalmente novo para uvas viníferas, mas você está errado. As primeiras vinhas chegaram em 1500 com colonos portugueses, mas plantaram nos locais errados. Os vinhedos quebraram devido ao calor e à umidade.
 
Os italianos começaram a chegar em 1875 e tiveram mais sorte. Apesar da imagem do país de praias tropicais ensolaradas, seu estado mais meridional do Rio Grande do Sul, 1.400 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro, tem um clima temperado como o do vizinho Uruguai. Os italianos se estabeleceram em sua fria e montanhosa subzona Serra Gaúcha, onde o clima, o solo de rocha basáltica e a altitude provaram ser excelentes para uvas para vinhos finos. Imigrantes do Trentino do norte da Itália trouxeram sua cultura de vinhos espumantes, mas o investimento em know-how e tecnologia realmente chegou no início dos anos 1970, quando a Moët & Chandon abriu uma ramificação, a Chandon Brasil. A qualidade teve um novo impulso quando a economia fechada do país se abriu na década de 1990, e a competição forçou os produtores de vinho a subir de nível. Nos últimos 20 anos, a cena vinícola do país explodiu em seis grandes regiões e 1.100 vinícolas, mas a Serra Gaúcha é onde cerca de 80% dos vinhos finos brasileiros são produzidos. Lá você encontrará o top espumante em duas microrregiões: o montanhoso Pinto Bandeira e o paraíso turístico Vale dos Vinhedos, onde fica a Casa Valduga. Como no Champagne, as uvas são principalmente chardonnay e pinot noir, e a vinificação depende do método tradicional de criar as bolhas por meio de uma segunda fermentação na garrafa. (Outras áreas fazem vinhos estilo prosecco através do método Charmat, que cria bolhas por meio da carbonatação em grandes tanques.) Nos últimos cinco anos, a qualidade dos espumantes deu um salto ainda maior, segundo Patricio Tapia, autor de Descorchados, o melhor guia de vinhos sul-americanos, que analisa dezenas deles na última edição. “Hoje”, diz ele, “os feitos com o método tradicional de Champagne estão entre os melhores da América do Sul”.
 
Muitos vinicultores estão depositando suas esperanças no vinho espumante como a porta de entrada do sabor para os EUA, o Reino Unido e talvez até a China. “O Brasil não tem uma uva característica, como o malbec na Argentina”, explica Evan Goldstein, presidente da Full Circle Wine Solutions Inc., que ofereceu a conferência. “Tão borbulhante é uma forma de se diferenciar.”
 
Destacar o efervescente parece uma jogada inteligente, embora o Brasil também produza alguns bons tintos e brancos e – surpreendentemente – vinho gelado. O amor pelo espumante de todos os lugares é o motivo pelo qual as vendas de vinho espumante nos EUA têm crescido consistentemente nos últimos 12 anos, e isso deve continuar até pelo menos 2025, de acordo com a edição de 2020 recém-publicada do Impact Databank Review and Forecast for Shanken, o mercado de vinho dos EUA.
 
Para o espumante brasileiro, há apenas um problema. Embora 2020 tenha sido um ano marcante para a colheita no Brasil – felizmente tudo foi colhido em fevereiro, antes de a Covid-19 chegar – a pandemia afetou seriamente os planos de exportação. Redes populares de churrascarias brasileiras, como Fogo de Chão, estavam espalhando a palavra; como todos os restaurantes, eles estão sofrendo, não reordenando. Ainda assim, há exemplos suficientes nas prateleiras para convencê-lo de que vale a pena beber, especialmente no feriado. Já mencionei que eles são pechinchas?
 

Guia de compra de garrafas de espumante brasileiro

Cave Geisse

Foto: Facebook Familia Geisse

 
Em qualidade e disponibilidade global, Geisse é líder no Brasil. Fundada pelo enólogo que estreou a Chandon Brasil, a vinícola há 40 anos aperfeiçoa os vinhos em Pinto Bandeira. Mario Geisse cultiva apenas chardonnay e pinot noir e faz todos os seus vinhos usando o mesmo método do Champagne.
 
Cave Geisse Brut 2016 (R$ 105 na Sampa): notas cítricas e acidez jazzística tornam este espumante crocante e refrescante, perfeito para aperitivos. Cave Amadeu Rústico Nature (R$ 95 na Sampa): transborda aromas de pão fresco assado e sabores intensos de limão fresco. Esta garrafa não vintage ainda está nas borras (células de fermento mortas), como um animal de estimação, por isso parece turva.
 

Casa Valduga

Foto: Facebook Casa Valduga

 
Administrada por três irmãos, esta é uma das vinícolas mais antigas do Brasil e está ajudando a liderar o novo cenário de qualidade. Os seus espumantes vêm de vinhas do Vale dos Vinhedos.
 
130 Brut (R$ 172 na Sampa): este chardonnay não vintage e pinot noir cuvée tem aromas intensos de amêndoa, um caráter saboroso, esfumaçado e complexo e bolhas densas e deliciosas. Casa Valduga Sur Lie 30 Meses Nature Branco (R$ 89 na Sampa): Principalmente chardonnay, é feito pelo método tradicional e também não vintage. É turvo, como um animal de estimação, e tem uma textura exuberante e cremosa e uma complexidade rica e frutada. (Cuidado: a tampa dificulta a abertura.)
 

Pizzato

Foto: Facebook Pizzato

 
De propriedade e gerência familiar, esta pequena vinícola boutique no Vale dos Vinhedos produz vinhos espumantes soberbos. Até agora, apenas seus tintos estão nos EUA.
 
2012 Pizzato Concentus Gran Reserva (procure o Concentus DOVV na Sampa): Profundo, exuberante, terroso e picante, essa mistura de merlot, cabernet sauvignon e tannat tem estrutura e frutas deliciosas. Seria ideal com um reconfortante ensopado de carne.
 

Miolo

Foto: Facebook Miolo

 
Um dos maiores produtores de vinho no Brasil, o Miolo Wine Group, de gerência familiar, mantém vinhedos em várias das principais regiões vinícolas e produz 15% de todos os vinhos espumantes do país. Os que estão abaixo vêm do Vale dos Vinhedos, de altitude.
 
Miolo Cuvée Tradition Brut Rosé não vintage ($ 16– $ 20): Cor profunda, frutas vermelhas, seco, fresco, efervescente não vintage adequado para comida. Procure também pelo Cuvée Tradition Brut não vintage (sugestão Sampa: conheça o Miolo Cuvée Giuseppe e o Miolo Millesime Brut)
 

Lidio Carraro

Foto: Facebook Lidio Carraro

 
Fundada há pouco mais de 20 anos, esta premiada vinícola boutique na Serra Gaúcha também possui vinhedos próximos à fronteira com o Uruguai, onde é mais seco e ventoso. Por enquanto, os espumantes estão disponíveis apenas no Brasil, mas experimente os tintos e brancos.
 
2016 Lidio Carraro Dadivas Chardonnay (R$ 99 na Sampa): Fresco, brilhante, limão e sem carvalho, este é um chardonnay que os amantes do pinot grigio vão adorar – um excelente branco para gelada. 2008 Grande Vindima Quorum (R$ 295 na Sampa): Um sofisticado tinto à base de merlot e algo para beber com um bife grelhado, depois de você ter bebido uma ou duas garrafas de espumante, é claro.
 

Postado por sampavinho

Sampa Vinho acredita em um futuro onde os brasileiros vejam o vinho não só como uma opção de bebida, mas como um hábito cultural e de saúde. Um futuro onde o vinho possa ser apreciado em sua totalidade, dos ambientes mais refinados aos mais simples, oferecendo prazer e completude aos mais diversos paladares, de forma total, ampla e inclusiva.

Publicado em January 13, 2021

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